Recentes acontecimentos, infelizmente trágicos, como o rompimento da barragem de Brumadinho em Minas Gerais ou o incêndio no CT do Flamengo, têm abordado o tema Gestão de Riscos, e levantado a seguinte questão: O que poderia ter sido feito para que isso fosse evitado? E aí entramos em uma discussão profunda que envolve o valor que as organizações dão para a Gestão de Riscos.
Quando se fala em Gestão de Riscos, o grande objetivo é trabalhar com a antecipação, com a prevenção de possíveis fatos impactantes. Nesse sentido, devemos ver o risco sempre como a hipótese de algo que possa ocorrer. Se conhecemos aquilo que pode ocorrer, podemos nos antecipar, criando ações de mitigação para os riscos, para que os mesmos não ocorram, ou se isso não for possível, se porventura ocorrerem, que causem o menor dano às pessoas e/ou organizações.
Porém muitas dessas ainda pensam em Gestão de Riscos como algo custoso, algo que onera as atividades, sem uma contrapartida efetiva. É claro que quando realizamos ações que visam diminuir os riscos inerentes às organizações, por vezes, temos um acréscimo de custos nas operações, algo dificilmente aceito em tempos de crise como os atuais. Porém, quase em sua maioria, os custos provenientes de ações de mitigação são menores do que os advindos de remediações. É conforme o dito popular: “O barato que sai caro”.
Já outras organizações têm a Gestão de Riscos como algo imposto, via alguma legislação específica ou solicitação de mercado. Nesses casos, normalmente se faz o mínimo necessário para que essas demandas sejam atendidas, sem a necessária preocupação com a qualidade do que se está implantando. Quando se aplica a Gestão de Riscos com esse objetivo, faz-se um grande esforço, porém sem direcionamento e sem a obtenção dos inúmeros benefícios que a Gestão de Riscos traz, como por exemplo: melhor entendimento do ambiente que a organização se encontra, antecipação de possíveis acontecimentos, visualização de oportunidades de negócios, disseminação da cultura preventiva, otimização dos recursos, etc. Nesse caso, a melhor frase para descrever esse cenário é: “Fazer as coisas para inglês ver”.
Se a organização enxerga a Gestão de Riscos por esse viés ou por aquele, em qualquer uma dessas situações o resultado final provavelmente não será satisfatório. O ponto que queremos salientar aqui é que as organizações que conseguem ver a Gestão de Riscos como uma ferramenta de valor, tanto para o negócio, como para todos os envolvidos, são as organizações que melhor conseguem atingir seus objetivos. Essas organizações colocam a Gestão de Riscos dentro de um posicionamento estratégico, como uma ferramenta de auxílio à implementação da estratégia e ao atingimento de seus objetivos de curto, médio e longo prazos.
Ninguém gosta de lidar com problemas. Quando nos vemos em uma situação de crise, muitas vezes temos poucas alternativas para contornar o problema. As pessoas se sentem pressionadas, o tempo é escasso, os custos se elevam e as soluções encontradas, normalmente não são as melhores. Esse é o ambiente que normalmente temos quando não fazemos uma boa Gestão de Riscos, ou simplesmente fazemos por fazer.
Por outro lado, quando, efetivamente, valorizamos a Gestão de Riscos, e a realizamos de forma eficiente, de maneira bem estruturada, com pessoas competentes, processos bem definidos e ferramentas de apoio; produzimos um ambiente de maior tranquilidade na organização, de profundo conhecimento dos riscos mais relevantes e podemos empenhar os escassos recursos que temos da maneira mais eficaz.
O modo como a Gestão de Riscos é conduzida, é outro aspecto que demonstra sua valorização. Ela deve ser realizada de maneira cíclica e contínua, fazendo parte do dia a dia das organizações. Discussões sobre os riscos identificados, o desenvolvimento dos planos de mitigação, o monitoramento das possíveis causas dos riscos e o reporte para a alta administração devem ser parte das agendas de todos.
Simplesmente criar uma lista de riscos, preencher uma matriz de riscos, escrever ações de mitigação, que nunca serão realizadas, e esquecer isso em uma gaveta ou dentro de uma pasta de arquivos, que poucos terão acesso, para em caso de uma eventualidade apresentar para órgão de controle ou fiscalização e dizer que “sim temos Gestão de Riscos”, é perder a riqueza que essa ferramenta pode representar.
Enfim, quero com esse pequeno artigo, primeiro levantar a discussão de como a maioria das organizações veem hoje a Gestão de Riscos, e como podemos torna-la cada vez mais uma ferramenta que cria valor e pode representar um ambiente mais tranquilo e produtivo. Futuramente abordaremos os aspectos mais práticos da Gestão de Riscos nas organizações.