ESG – Uma brevíssima reflexão sobre sua importância às Micro e Pequenas Empresas.

10 de junho de 2022

ESG – Uma brevíssima reflexão sobre sua importância às Micro e Pequenas Empresas.

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Há algum tempo o lucro deixou de ser o único objetivo das corporações e termos como a sustentabilidade e a governança tornaram-se guias que orientam os negócios.

Atualmente outro termo tem sido aplicado para materializar práticas que visam minimizar os impactos das empresas no meio ambiente, auxiliar na construção de um mundo mais justo e equânime para a sociedade e, conjuntamente, aplicar os melhores processos de administração. Trata-se do ESG, sigla em inglês para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), aplicada para mensurar as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa.

Um estudo realizado pela consultoria BCG[1] demostrou que as empresas que adotam as melhores práticas ambientais, sociais e de governança auferem diversos impactos positivos, como maior lucratividade, melhora em seu valor de mercado ao longo do tempo, resiliência, capacidade ética, acesso e inclusão, dentre outras vantagens.

O movimento de CEOs de grandes corporações, como a Black Rock[2], a Apple, Amazon, a Dell[3] e a Unilever[4], incentivou milhares de empresas e demonstra que a sustentabilidade nos negócios virou protagonista na vantagem competitiva.

Os temas tratados nas práticas ESG e as ações corporativas que as materializam podem ser resumidos no quadro abaixo:

 

  TEMA AÇÕES PROPOSTAS
E – Environmental (meio ambiente) Mudanças climáticas, restrição de recursos hídricos, gerenciamento de resíduos sólidos, aumento da poluição, perda da biodiversidade, dentre outros Ações que auxiliem no combate às ameaças, ou que as minimize, como equipamentos que diminuam a emissão de gases, investir em projetos de sequestro de carbono, uso eficiente da água e energia, gestão adequada de resíduos, escolha de produtos sustentáveis, análise do ciclo de vida de produtos, etc.
S – Social Direitos do trabalhador, diversidade, inclusão, comunidade ao redor, etc. Ações sociais, de saúde, segurança e bem estar dos colaboradores, da comunidade, responsabilidade com os clientes.
G – Governança Direitos dos acionistas, gestão de riscos, transparência fiscal. Ações anticorrupção, políticas de integridade, canais de denúncia, transparência das ações, etc.

 

No entanto, o leitor não pode presumir que ESG é um elemento exclusivo das grandes corporações. Ao contrário. Micro e pequenas empresas possuem vantagens competitivas e melhores performances nos temas relacionados à sigla do que as médias e grandes empresas. É o que demonstrou a pesquisa lançada recentemente “Melhores para o Brasil”, da Humanizadas[5].

Segundo o CEO da Humanizadas, Pedro Paro, “No geral, é mais fácil para uma empresa com 5 ou 20 colaboradores nutrir uma cultura saudável, ter um ambiente de segurança psicológica e cuidar da sustentabilidade do que uma empresa com 30 mil ou 100 mil colaboradores”[6].

Dentre as vantagens apontadas para a implementação de ESG em MPEs encontra-se a melhor interação entre os colaboradores, a operação e os clientes, alinhando os propósitos e valores da empresa aos stakeholders; manutenção das relações de confiança, produtividade e cultura social; facilidade nas deliberações sociais, com menores níveis hierárquicos no processo decisório; e, possibilidade maior de mudanças que se alinhem aos propósitos da empresa.

E, uma vez implementadas as ações ou princípios de ESG, os pequenos negócios podem vislumbrar muitos benefícios, tais como, (i) expansão da marca com financiamentos facilitados em instituições que preconizam a nova economia (o que inclui a sigla); (ii) concretização do propósito da empresa, com medidas efetivas em linha com a cultura empresarial e os valores; (iii) reputação, com a expansão da admiração de seus stakeholders; (iv) alinhamento empresarial, com a cobrança de clientes empresariais que exigem de sua cadeia produtiva o mesmo comprometimento ESG, aperfeiçoando sua própria produção; e, (v) redução de riscos e prejuízos, pois a governança que incorpora os aspectos sociais e ambientais reflete uma postura consciente, com maior controle sobre a gestão empresarial.

Em pesquisa divulgada no ano de 2018 pelo Sebrae[7] ficou registrado que 93% dos pequenos empreendimentos estão comprometidos com a sustentabilidade e que 85% apoiam a comunidade local.

Há um mercado em expansão para empresas comprometidas com a implementação efetiva de ESG em seu negócio, seja para um consumidor final, como para prestar serviços a outras empresas, ou até mesmo, ao mercado público. Na primeira categoria pode-se afirmar que os consumidores têm assumido um papel primordial para orientar as ações das empresas nessa mudança de paradigma.

Ainda, pode-se sinalizar que muitas empresas e startups estão sendo criadas para prestar serviços relacionados ao tema ESG para outras empresas, agregando tecnologia, criatividade e indicadores mensurados. Aponta-se que “muitas destas ESGtechs estão trabalhando com o sistema de blockchain para fechar o ciclo de dados e informações nos processos ambientais de resíduos, carbono ou de desmatamento, por exemplo.[8]

Por fim, um grande nicho de negócios para as MPEs é o mercado público, que no ano de 2021 teve alterada sua Lei de Licitações, com a edição da Lei n° 14.133/21, e que em diversos artigos materializa a vontade estatal de congregar nas contratações públicas os mesmos elementos ESG traduzidos na atividade privada, estimulando contratações nas esferas públicas que agreguem governança, meio ambiente e interesse coletivo.

Ou seja, há apenas benefícios para a implementação de ESG aos micro e pequenos empreendimentos, em prol da sua sobrevivência, permanência e expansão no mercado.

 

 

 

[1] Disponível em: https://www.bcg.com/pt-br/capabilities/social-impact-sustainability/approach-to-sustainability

[2] Em 14 de janeiro de 2020, na tradicional carta anual da Black Rock, maior gestora de ativos do mundo, o CEO Larry Fink, afirmou que a sustentabilidade tornou parte integrante da construção do portfólio e da gestão de risco da empresa (https://www.blackrock.com/br/larry-fink-ceo-letter).

[3] Os líderes dessas empresas assinaram em 2019 a Declaração sobre o Propósito de uma Corporação, com outras 178 grandes empresas americanas, propondo a valorização do propósito antes do lucro (VOLTOLINI, Ricardo. Vamos falar de ESG? Provocações de um pioneiro em sustentabilidade empresarial, Belo Horizonte, Editora Doyen, 2021, p. 12).

[4] VOLTOLINI, Ricardo, op. cit., p.15.

[5] Disponível em: https://humanizadas.com/pesquisa-melhores-para-o-brasil/, acesso em 05 de junho de 2022.

[6]           Fonte: https://humanizadas.com/quem-performa-melhor-na-nova-economia-pequenas-medias-ou-grandes-corporacoes/, acesso em 05 de junho de 2022.

[7] Disponível em: https://www.agenciasebrae.com.br/sites/asn/uf/BA/micro-e-pequenas-empresas-demonstram-engajamento-com-conceito-de-sustentabilidade,42c1b449fb22a610VgnVCM1000004c00210aRCRD, acesso em 02/06/2022.

[8] Disponível em: https://oespecialista.com.br/opinioes/o-esg-e-as-micro-pequenas-e-medias-empresas/, acesso em 02/06/2022.