Não é surpresa que os clubes de futebol vivem em constante pressão sobre os resultados colhidos durante os jogos. Essa tensão aparece de diversas maneiras: dentro de campo pelos próprios jogadores, através de sócios e torcedores, bem como através da própria Diretoria, pois, afinal, o objetivo está sempre na vitória.
Juntamente a essa pressão, é notória a existência de uma cobrança no que diz respeito à transparência do clube sobre a sua gestão de modo amplo, seja relacionado ao seu público externo (sócios, torcedores, patrocinadores), quanto aos seus colaboradores internos.
Nesse contexto, é notório o crescimento da adesão dos clubes de futebol, ainda que de forma tardia, aos Sistemas de Integridade, popularmente chamados como Programas de Compliance, visto que tratam de um mecanismo estruturado internamente para buscar a garantia e manutenção de um ambiente ético, através de diversas ferramentas como a gestão de riscos, criação de políticas internas, estruturação de canal de denúncias, dentre outros.
A aplicação dessas medidas de forma efetiva, aderindo a um modelo de gestão apoiado em todas as práticas de compliance, já demonstra para o público externo que o clube está comprometido em realizar uma administração de forma íntegra, transparente e responsável, causando, portanto, uma melhoria em sua imagem institucional.
A adesão dessas práticas também pode gerar um maior engajamento por parte dos torcedores do clube, fazendo com que estes se sintam parte de parte de sua gestão, afastando o sentimento de que potenciais interesses pessoais de membros da Diretoria possam tornar-se parâmetro para todas as decisões de gestão, ocorrendo à distância do interesse principal de um clube de futebol, que é a prática esportiva.
Ainda, sobre o aspecto da gestão financeira, é importante ressaltar que o futebol possui um fluxo de caixa diferenciado: tendo em vista que nem sempre a vitória é garantida, existem fases, o fluxo é sazonal, passando por momentos de investimentos altíssimos, até tempos de grande redução de custos. Além disso, neste cenário existem diversos interessados, com objetivos igualmente diversos, e, diante desse fato, é plausível constatar que a gestão também não poderá ser realizada de uma forma comum.
A partir dessas incertezas, é possível constatar alguns riscos inerentes às atividades do negócio, os quais deverão ser analisados, de modo a traçar um plano estratégico e determinar o apetite de risco do clube diante dessas possibilidades. Nesse sentido, o compliance também será essencial para o acompanhamento dessa gestão, como uma ferramenta de controle.
Vale ressaltar ainda que no Brasil existem mecanismos como o PROFUT (Programa de Modernização da Gestão e Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) que, nos termos da Lei nº 13.155/15, possibilita que os clubes brasileiros refinanciem suas dívidas por meio de algumas condições especiais. Para os clubes que possuem interesse na utilização desse Programa, é importante que exista uma governança estruturada através de um Sistema de Integridade, para que possuam mecanismos que possam prevenir a prática de ilícitos, bem como o devido controle sobre o aspecto fiscal.
Portanto, o presente artigo cita alguns, mas não esgota, os benefícios decorrentes da implementação do compliance nos clubes de futebol, visto que, de fato, a gestão e compromisso no mundo futebolístico vai (muito) além das quatro linhas.